Mile High Club

Aeroporto de Guarulhos. Terminal 3. Sala VIP. Freud e Martha esperam o horário do embarque. Fazem fotos. Publicam nas redes sociais. Jantam. Tomam banho. Aproveitam as amenidades. Experimentam todos os vinhos.

-Freud, o Malbec está ótimo. Gostei.

-Achei o Tempranillo melhor, Martha.

-O sorvete também está uma delícia. Adorei os mimos dessa sala.

-Eu gostei do banho. Estava precisando. Muito bom viajar assim.

-Para completar, poderíamos conseguir o upgrade para a executiva, né?!

-Chances pequenas, Martha. Tem seis pessoas na nossa frente.

-Vai dar certo, Freud. Você vai ver.

-Oremos, Martha. Oremos!

Servem mais uma taça de vinho para cada. Revisam o plano para o dia seguinte. Freud confere a documentação, mais uma vez. Tudo certo. Hora de embarcar.

-Martha, vamos.

-Qual é o portão, Freud?

-308. Não é longe.

-Conseguimos o upgrade?

Freud checa a fila no aplicativo da companhia aérea.

-Infelizmente não.

-Droga! Quais nossos assentos.

-Janela e corredor.

-Um ao lado do outro?

-Não. Tem a poltrona do meio.

-Colocou alguém entre nós, Freud?!

-Quando marquei, estava vazia. Se continuar assim, viajamos com mais espaço.

-E se alguém sentar?

-Pedimos para trocar, ué?!

Embarcam. Acomodam as bagagens. Ninguém no meio. Martha na janela. Freud no corredor. Celebram.

-Freud, que delícia. Estaremos sozinhos aqui.

-Vai entrar para o Mile High Club, Martha?!

-O que é isso?

-O clube de quem fez sexo durante o voo.

-Nem sabia que isso existia. Mas sim, esse é o plano. Hoje você não me escapa!

-E quem disse que quero escapar?

Trocam olhares cheio de promessas. O embarque continua. Os assentos próximos vão sendo ocupados. Quase no final do embarque, uma mulher caminha solitária pelo corredor. Para ao lado de Freud.

-Estou no meio.

Freud sorri. Levanta-se. Ela senta-se no meio. Acomoda a mochila no espaço dos pés. O comandante anuncia.

-Embarque encerrado. Portas em automático.