Fantasia da Amiga
Freud encontra Vera, uma amiga de longa data, no voo para São Paulo. Ela pede ajuda a ele para realizar a fantasia de visitar uma casa de swing. Lá dentro, Vera dá um show. E à Freud cabe um papel inusitado.

Esse voo para São Paulo é o preferido de quem tem compromissos profissionais na capital paulista. Decola de madrugada e pousa em Congonhas às seis da manhã. Assim é possível chegar ao destino antes que a cidade acorde e lote suas ruas.
Sou passageiro frequente desse voo, às segundas-feiras. Já tenho minha rotina para encarar as quase duas horas de voo. Sento na janela, para não ser importunado por alguém querendo ir ao banheiro, coloco o fone de ouvidos anti ruídos, uma música suave bem baixinha e durmo praticamente o voo todo.
Embarco no primeiro grupo e me ajeito na janela. As poltronas ao meu lado estão vazias. Próximo do final do embarque, a poltrona do corredor é ocupada. Para minha surpresa, por Vera, uma amiga que eu não via há anos.
-Freud?! Quanto tempo! Que surpresa!
-Oi Vera! Surpresa mesmo! Como você está?!
Eu e Vera nos conhecemos há alguns anos em um chat online. Tivemos alguns encontros. Ela estudava em São Paulo, na época. O romance não engatou e perdemos o contato. Vera me conta que voltou de São Paulo há três anos. Montou seu escritório de advocacia e está casada.
Eu conto a ela que trabalho na mesma empresa de quando nos conhecemos. Vera é uma pessoa agradável. Abandono a ideia de dormir e passamos o voo conversando. Em determinado momento, lembramos de algumas loucuras que fizemos nos nossos poucos encontros.
-Freud, nós éramos loucos! Lembra quando quase fomos pegos pela polícia transando no carro?
-Lembro! O carro era seu. A ideia foi sua.
-Foi, mas você aceitou na hora!
A lembrança abre um novo capítulo na nossa conversa. Faço um movimento atrevido.
-Você está ótima, Vera! Ainda melhor do que quando nos conhecemos.
Ela sorri. Eu sorrio. Inteligente, ela percebeu meu movimento.
-Freud, Freud…
Pego no pulo, tento uma saída honrosa.
-Sem sacanagem, Vera. É verdade. Você está ótima. E é só um elogio.
Ela ri. Passa a mão no cabelo. E respeita minha saída honrosa.
-Vou aceitar o elogio, Freud. Obrigado.
Pousamos. Os dois apenas com bagagem de mão. Nossos destinos são próximos. Ofereço uma carona.
-Meu táxi passa na frente do seu hotel. Quer uma carona? Estou sozinho.
-Ah, quero sim, Freud. Obrigada.
O táxi chega no hotel. Ela desce. Eu a acompanho, para me despedir.
-Vera, muito bom te rever. Bons negócios em São Paulo.
-Também gostei, Freud. Boa semana pra você também.
Entro no táxi. Vera dá dois passos e volta.
-Anota meu telefone. Depois me mande uma mensagem.
Anoto rapidamente. O táxi sai. Mando um oi. Vou para o trabalho com a sensação de que aquela semana será interessante.