Depois do Inverno, a Primavera

Após um casamento repressor, Samira floresce, explorando a liberdade e a sensualidade em uma vida renovada.

Depois do Inverno, a Primavera

Samira pede ajuda ao atendente da livraria para encontrar o livro que procura.

— Temos um exemplar e está na seção de Economia.

Para surpresa dela, um homem está lendo o livro. Ela aguarda, esperando que ele devolva ou compre. Trinta minutos depois, ela decide intervir:

— O senhor vai comprar esse livro? É o único exemplar e estou esperando há meia hora sua decisão.

Ele fecha o livro e olha com calma para a jovem que o abordou. Encantado com sua beleza, tenta acalmá-la:

— Bem, eu troco o livro por um café com você.

Surpresa, ela o avalia bem antes de responder:

— Tudo bem, eu preciso do livro. Topo o café.

Quinze anos os separam e isso não impede que a conversa seja agradável. O café se torna um jantar e a conversa evolui para um namoro.

Na apresentação dela à família dele, seu futuro sogro faz uma brincadeira:

— Ele nunca apresentou ninguém para nós. Quando disse que traria uma pessoa aqui para conhecermos, fiquei com medo dele aparecer com um bigodudo.

Muitas risadas com a piada. O namoro segue e um ano depois o casamento acontece.

A noite de núpcias a encontra ansiosa. Será sua primeira vez com um homem. Ela tem mais dúvidas do que certezas em seus pensamentos.

— Eu vou tomar banho, querido. Me espere aqui?

Ele responde que sim com um aceno de cabeça. Ela capricha no banho, coloca a camisola de seda sobre a lingerie especialmente escolhida e volta para o quarto, perfumada e pronta para sua primeira noite de prazer.

Entre os vários cenários que imaginou para aquele momento, encontrá-lo dormindo e roncando não estava em seus planos. Resignada, dorme ao lado dele.

A primeira vez dela acontece dias depois, em casa. Deitados na cama, já prontos para dormir, ela o acaricia e ele reage. É tudo muito rápido e bem longe do que ela esperava para aquela experiência. Não vê estrelas e nem sente o corpo flutuar, que era o que ela esperava, baseada na leitura daquele momento em vários dos livros que lera.

Ele não gostou da calcinha dos Ursinhos Carinhos. É um dos seus pensamentos.

Os meses passam e a dinâmica na cama continua a mesma. Ele sempre muito rápido e ela longe do prazer que esperava. Aos poucos, ela tenta inovar.

— Deixe eu ficar por cima, querido.

— Não precisa.

— Eu quero, vai ser gostoso.

Ela sai de baixo dele e o cavalga. Controlando o que está acontecendo, sente novas sensações tomar conta de seu corpo. E experimenta a ejaculação feminina pela primeira vez. Sem saber do que se trata, não sabe lidar com a reação dele:

— Olha o que você fez! Que imundície! Me sujou todo! Que nojo!

A chegada do filho reforça a dinâmica atual do casal. Passam meses sem intimidade. Ela sente falta, ele não toca no assunto.

Ela procura saídas. O surpreende com uma lingerie sexy.

— O que achou, querido?

— Isso é comportamento de vagabunda! Mulher minha não usa isso! Onde já se viu?

Anos depois, cria coragem para levar um brinquedo para a cama.

— Fui com uma amiga ao sex shop e comprei um anel para você, querido.

— Que porra é essa, Samira?!

— É para você colocar no pinto. É gostoso, experimente.

— Você está louca?! Jogue isso fora! Não sou o tipo de homem que usa essas sacanagens!

Quando não consegue lidar com isso e reclama, ele recorre à saída de sempre:

— O que você está precisando? Uma bolsa? Um vestido? Quer trocar o carro? Quer viajar?

Eles viajam pelo mundo todo, mas ele não permite que ela conheça o próprio prazer.

Ouvindo os relatos das amigas sobre a preferência dos homens, ela faz uma tentativa ousada.

— Querido, coma a minha bunda!

— Você tem certeza?

— Sim, eu quero. Mete no meu rabo!

Sem prática no assunto, a experiência é muito dolorosa para ela. E termina ainda mais rápido do que as outras vezes. Ela ainda tenta voltar a isso algumas vezes, mas o resultado é sempre o mesmo.

As brigas do casal se intensificam e o distanciamento também. Samira avalia pedir a separação, depois deixa isso de lado durante a pandemia até que um fato novo a surpreende.

— Meu marido é bissexual.

— O que é isso, Samira?! Tá maluca?

— Eu demorei a ligar os pontos, amiga, mas ele é. E trouxe o namorado dele para o nosso convívio.

— Aquele amigo é namorado dele?

— Sim, é. E o filho da puta o colocou dentro de casa, próximo do meu filho.

— Que maluquice, Samira. O que vai fazer?

— Eu vou pedir a separação.

O divórcio é turbulento, com muitas acusações de parte a parte. Ela vive o luto do fim do casamento de quase vinte anos, com ajuda da terapia. Aos poucos, a notícia se espalha e outros homens começam a se aproximar.

Um amigo de anos é o mais insistente e Samira toma uma decisão inusitada.

— Eu vou dar de qualquer jeito para esse cara, só para ele sair do meu pé. Vai ser uma transa bem meia boca.

O que ela não contava é que a química entre o casal fosse tão grande. Quando ele baixa o zíper de sua saia, ela sente seu corpo todo arrepiar e o tesão toma conta. Logo ela está cavalgando com muito desejo e a ejaculação acontece.

— Me desculpe! Meu Deus, que vergonha!

— Como assim, Samira?! Eu adoro! Não se desculpe. Isso é muito gostoso!

Surpresa com a reação inesperada e incentivada pelo novo amante, Samira explora essas novas sensações e se diverte. É uma noite inesquecível. Seu corpo experimenta sensações que nunca imaginou. Ela resume bem o que aconteceu para sua terapeuta, no dia seguinte:

— É como se eu tivesse passado a vida toda no inverno e agora chegou a primavera. Desabrochei!

Seu novo parceiro, encantado com o desejo dela em aprender e experimentar, a procura repetida vezes. Boa aluna, ela avança rápido no conhecimento de seu corpo e de sua sexualidade, estimulada por ele.

Ciente de que há mais a experimentar, ela procura novos parceiros. Não quer o sexo meramente casual e prefere amigos, colegas, enfim, pessoas com as quais já tenha alguma história. Os pedidos de namoro e até casamento aparecem. Ela é firme ao rejeitá-los. Não é o que quer para sua vida.

As amigas organizam um chá de lingerie para renovar o guarda-roupas. Sem pudor, ela dança na frente das amigas enquanto tira a roupa. Para cada peça que tira, é presenteada com uma lingerie. E cada uma mais atrevida do que a outra.

Ela segue colecionando novas e boas histórias. E compartilha com as amigas, agora na condição da mais experiente e despudorada do grupo.

— E então, Samira, qual foi sua melhor transa?

A pergunta a faz pensar e as amigas aguardam ansiosas pela resposta, que não tarda:

— Foi com um amigo que se separou logo depois de mim. Mas ele já voltou com a esposa. Então não o vejo mais. Ele sabe comer uma bunda como ninguém.

— Ah, é?! Aprendeu a dar o rabo, safada?

— Aprendi, amiga. E gostei. Eu ligava para ele e dizia que estava com vontade. Ele me encontrava apenas para meter no meu rabo. Sinto saudades daquele comedor de bunda!

Samira segue experimentando. Seu parceiro atual propôs trazer que eles tragam pessoas para a cama. E o casal está discutindo isso. Em breve, Samira deve estrear no mundo liberal, visitando uma das casas de São Paulo