5 Estragos que o Ego Causa no Relacionamento
Entenda os 5 principais estragos que o ego pode causar em um relacionamento e como superá-los para uma vida a dois mais saudável.
Sábado, nove da manhã. Eu e Martha ainda não nos falamos hoje. Envio a mensagem:
-Oi Linda, bom dia. Dormiu bem? Se divertiram ontem? Ficou ótima a foto que vocês postaram!
Estamos em cidades diferentes e ontem ela foi a um bar. Postou uma foto rindo muito com as amigas, com drinques nas mãos e alguns homens ao redor. Ao fundo, o bar lotado e uma banda no palco. Na foto, a hashtag #sextou.
A primeira mensagem que me veio à mente, quando vi a foto hoje, foi essa:
-Por que você estava se divertindo tanto sem mim? O que você conversou com aqueles homens? Por que você estava rindo em companhia de homens mais bonitos do que eu?
Se você já se viu em uma situação parecida, saiba que não está só. A mensagem que eu queria escrever é obra do meu ego.
O ego é minha voz interior que distorce minha visão da realidade. O ego me faz acreditar que sou superior. Que sempre tenho razão. E que Martha deve atender todas as minhas necessidades emocionais. E apenas as minhas.
É meu ego que cria as expectativas irreais. Me faz tomar decisões que prejudicam meu relacionamento. Ele estimula que eu tenha comportamentos possessivos, controladores e ciumentos.
Trocar a primeira mensagem pela que enviei é resultado da terapia. E de aprendizado. Nesse tema em particular, o livro O Ego é Seu Inimigo, de Ryan Holiday, me foi de grande valia. Já falei sobre ele com várias pessoas. Acredito que entender os mecanismos de funcionamento do ego pode melhorar o seu relacionamento.
Compartilho aqui os cinco principais estragos que o ego causa no relacionamento, na minha opinião.
Expectativas irreais
Quando estamos juntos, eu espero que Martha faça os programas que eu quero. Se isso não acontece, eu fico frustrado, demonstro meu descontentamento e discutimos.
A minha expectativa de que ela atenda às minhas necessidades é irreal. E é criada pelo meu ego. Ao deixar isso acontecer, eu gero frustrações e desequilíbrios no nosso relacionamento.
Primeiro, ela não tem a obrigação de atender todas as minhas necessidades. Há coisas que eu gosto de fazer e que ela não gosta, não se sente à vontade ou apenas não quer fazer. E eu tenho que respeitar isso.
Segundo, eu tenho que comunicar o que eu quero, o que eu espero. Ela não tem o poder de adivinhar o que eu estou pensando.
Terceiro, ela tem as próprias necessidades, que nem sempre serão compatíveis com as minhas.
Quando eu reconheço essas coisas, eu ajusto as minhas expectativas, me comunico melhor e nosso relacionamento fica mais equilibrado e saudável.
Conversar abertamente sobre minhas vontades e ouvir as vontades dela leva a uma negociação da agenda comum e da agenda individual. Isso nos permite atender a maior parte das nossas necessidades.
Eventualmente, tenho que abrir mão de alguma coisa. E ela também. Quando é algo muito importante, conversamos e encontramos um meio termo, uma forma de ter isso atendido. Na maioria das vezes, é algo sem importância, só uma manifestação do ego, querendo tudo.
Falta de autocrítica
Eu sou viciado no celular. Várias vezes Martha fala comigo e eu não escuto, pois estou distraído com algum posto do Instagram ou uma conversa do WhatsApp. Ela gosta?! Claro que não! Ninguém gosta!
Quando ela aponta esse meu comportamento, minha primeira reação é negar.
-Eu estava te ouvindo sim.
-É um assunto importante.
Essa é a reação do meu ego. Ele me impede de reconhecer meus próprios erros. Isso dificulta a comunicação e cria barreiras emocionais. É muito difícil conversar com alguém que não erra nunca.
Aprendi a ser humilde e reconhecer meus erros. Peço desculpas e faço o possível para corrigir o impacto causado. E, mais importante, aprendo com ele. Isso fortalece a parceria que tenho com ela.
Quando eu me mostro mais aberto a reconhecer minhas falhas, eu retiro uma barreira importante na comunicação. Agora ela sabe que pode falar sobre meus erros e que eu não vou reagir mal.
Um cuidado importante: erros repetidos sinalizam que o aprendizado não está acontecendo. Quando passo por isso, capricho mais na análise e identifico quais comportamentos preciso mudar para evitar essa repetição.
Necessidade de controle
Eu e Martha compartilhamos uma agenda. Anotamos ali os compromissos comuns, como nossas viagens e programas a dois. Quando é uma viagem com escala, eu anoto dois compromissos, um para cada voo. Coloco número do voo, poltrona, código da reserva. É um excesso, eu sei.
Quando Martha anota uma viagem, ela coloca apenas as informações essenciais. Isso me incomoda. Fico com a sensação de que não sei de tudo que vai acontecer. Tem escala? Onde é a escala? Que horas é a escala?
É o meu ego atuando, exigindo que eu tenha o controle de tudo, inclusive do comportamento dela. Ele me ensina que se eu não tenho o controle, algo de ruim está acontecendo.
Nossa relação tem na cumplicidade e na confiança seus principais pilares. E controle não combina com confiança. Então eu aprendi a abrir mão do controle. Entender e aceitar que nem tudo vai acontecer da maneira que eu quero. Ou que eu vou saber de tudo o que está acontecendo.
Me comportando dessa maneira, eu contribuo para que nossa relação seja baseada em confiança e respeito mútuo.
Comparações e inseguranças
Como um usuário ativo nas redes sociais, eu sou muito exposto à vida de outras pessoas e de outros casais. Eventualmente eu comparo o nosso relacionamento com outros. É uma foto em um restaurante que ficou melhor do que a nossa. É um passeio que fizeram e que nós não pensamos em fazer. E aí bate a insegurança. E se ela vir isso e me achar um namorado ruim?
Esse comportamento é mais uma manifestação do meu ego, exigindo que eu seja o melhor em tudo. Gera insegurança. Inveja. Ciúmes. E afeta a relação.
No meu processo de terapia eu entendi que não preciso ser o melhor. Aliás, entendi que a minha régua de medir o que é melhor não é a mesma das outras pessoas. Aprendi a evitar as comparações. Duas coisas legais aconteceram a partir disso.
A primeira, eu passei a me importar com a minha relação, com o que eu e Martha fazemos. Deixei de me preocupar com o que outros casais fazem. Ou pensam sobre nós.
E segundo, eu passei a me sentir bem quando vejo outros casais felizes nas redes sociais, ou mesmo em situações do mundo real. Deixei de sentir inveja.
Me sinto mais leve.
Vontade de sempre ter razão
Eu sempre tenho uma opinião sobre qualquer assunto. Não importa qual o tema da conversa. E me dá um prazer danado expor minha opinião e defendê-la.
Mas nem sempre eu conheço bem do assunto. Ou tenho todas as informações. Ou conheço o contexto.
Meu ego ignora isso e me diz para opinar e defender a minha opinião. Me faz querer estar certo, ter razão sempre. E quanto eu me comporto assim com Martha, me torno uma pessoa difícil e enfraqueço nossa parceria. Eu me fecho para aprender e crescer.
A frase “é melhor ser feliz do que estar certo” explica bem esse conceito. Eu entendi que não preciso ter sempre razão. E estou aprendendo - é um processo - a me comportar dessa maneira.
Aprendi a ouvir sem opinar. É um comportamento muito difícil para mim, ainda. Mas sigo praticando e evoluindo. E é muito saudável. Eu aprendo. Eu cresço. E eu permito que Martha expresse e defenda as opiniões dela, sem medo de ser julgada ou confrontada.
É um exercício de empatia e paciência. Aliás, um exercício muito valioso.
Conclusão
Eu recomendo que você faça a leitura do livro O Ego é Seu Inimigo. Se comprar por esse link, vai ajudar no crescimento aqui do site. Desde já, muito obrigado.
Se você se identificar com as situações descritas ali - e você vai, acredite - coloque em prática ações para mudar o seu comportamento. Se precisar, peça ajuda. Não se envergonhe. Essa ajuda pode vir do seu cônjuge, da sua família, de seus amigos ou de um profissional - terapia é sempre uma ajuda importante.
Deixo meu testemunho de que minha vida ficou muito mais leve quando eu entendi o impacto que o meu ego tinha - e ainda tem, é um processo - nas minhas ações, no meu comportamento. E acredito que me tornei uma pessoa com quem é mais fácil conviver.
E você? Que história sobre o seu ego você tem para compartilhar? Conte aqui. Vou adorar saber.